Nos últimos anos, um novo fenômeno vem transformando o marketing digital, o entretenimento e até mesmo a forma como nos relacionamos com figuras públicas: o crescimento dos influenciadores de inteligência artificial (IA). Antes vistos como uma curiosidade futurista, hoje eles já ocupam espaço ao lado de celebridades reais em campanhas publicitárias, acumulam milhões de seguidores nas redes sociais e despertam debates sobre autenticidade, ética e o futuro da influência digital.
Esses influenciadores são personagens virtuais criados por meio de softwares avançados de design 3D, deep learning e machine learning. Eles não apenas possuem rostos e corpos hiper-realistas, mas também personalidades programadas que interagem com os seguidores de forma convincente. Exemplos famosos como Lil Miquela, criada em 2016, abriram caminho para uma indústria que movimenta milhões de dólares e que se expandiu em escala global. Hoje, há influenciadores virtuais que cantam, apresentam programas, estrelam desfiles de moda e até lançam produtos próprios, mostrando que a fronteira entre o humano e o digital está cada vez mais borrada.
O apelo desse tipo de influenciador se deve a vários fatores. Para as marcas, existe a possibilidade de controle total sobre a imagem, comportamento e narrativa do personagem, reduzindo riscos de escândalos ou imprevistos comuns em figuras públicas humanas. Além disso, a versatilidade permite que o influenciador virtual atue em diferentes idiomas, estilos e até em lugares do mundo onde fisicamente não poderia estar, ampliando o alcance global de campanhas. Essa previsibilidade é vista como uma vantagem em um mercado onde a reputação pode ser destruída por uma única polêmica.
Do lado dos consumidores, a atração também é evidente. Muitos enxergam nesses personagens uma combinação entre fantasia e realidade, onde a perfeição estética e a narrativa aspiracional convivem com elementos de vulnerabilidade e proximidade criados artificialmente. Há seguidores que desenvolvem vínculos emocionais reais, comentando e interagindo como se estivessem diante de uma pessoa de carne e osso. Esse aspecto levanta discussões profundas sobre a psicologia do consumo digital e até sobre os limites da manipulação emocional promovida pela tecnologia.
Contudo, o crescimento dos influenciadores de inteligência artificial não está isento de controvérsias. Questões éticas emergem, como a transparência na identificação de que um perfil é artificial, o impacto sobre empregos de influenciadores humanos e a manipulação de comportamentos de consumo. Além disso, existe um debate sobre identidade e representatividade, já que personagens virtuais podem assumir etnias, estilos de vida e culturas sem vivê-las de fato, gerando discussões sobre apropriação cultural digital.
Ainda assim, tudo indica que esses influenciadores vieram para ficar. Grandes agências já têm departamentos especializados na criação e gerenciamento de pessoas virtuais, e o avanço da inteligência artificial generativa promete tornar essas figuras ainda mais autônomas e realistas. Em um futuro próximo, é possível que eles não apenas façam publicidade, mas se tornem líderes de opinião, apresentadores de televisão ou até políticos digitais, influenciando decisões coletivas em escala inédita. Baixar video Instagram
O crescimento dos influenciadores de inteligência artificial é, portanto, um reflexo do nosso tempo, marcado pela fusão entre tecnologia e vida cotidiana. Mais do que uma tendência passageira, eles representam uma transformação estrutural no modo como consumimos, nos relacionamos e construímos identidades no espaço digital. A pergunta que resta é: até onde estaremos dispostos a aceitar e conviver com essa nova forma de influência, em que a fronteira entre real e virtual se torna quase invisível?
