O outro te escuta ou só espera a vez de falar? A diferença entre ser ouvido e apenas silenciado

Por: Júlia Pautas
30/06/2025 - 18:15:11

Em muitos relacionamentos — sejam amorosos, familiares ou de amizade — é comum nos depararmos com uma sensação incômoda: a de falar, mas não ser realmente ouvido. Às vezes, durante uma conversa, percebemos que o outro não está de fato prestando atenção ao que dizemos, apenas aguardando o momento de retrucar ou trazer seu próprio ponto de vista. Isso levanta uma pergunta essencial para qualquer vínculo saudável: o outro te escuta ou só espera a vez de falar?

A escuta verdadeira vai além do silêncio

Escutar de verdade é mais do que manter a boca fechada enquanto o outro fala. Envolve presença, empatia e disposição real de compreender o que está sendo dito — inclusive as emoções por trás das palavras. É um ato de entrega e conexão. Quando alguém nos escuta com atenção, nos sentimos validados, importantes e respeitados. Por outro lado, quando percebemos que a pessoa está apenas esperando a própria vez de falar, sentimos solidão, frustração e desvalorização.

Essa dinâmica é extremamente comum em discussões, especialmente naquelas mais intensas. Cada um fica tão focado em defender seu ponto de vista, em justificar seu lado da história, que não presta atenção real no que o outro está tentando comunicar. O "ouvir para responder" substitui o "ouvir para entender". E assim, a comunicação vira uma disputa, não uma troca.

Os sinais de que você não está sendo escutado

É possível perceber com clareza quando alguém não está realmente ouvindo. Os sinais mais comuns incluem:

  • A pessoa interrompe frequentemente para dar sua opinião;

  • Ela responde com frases que mostram que não entendeu o que foi dito;

  • Seu corpo ou olhar parece distante ou distraído;

  • Ela traz temas desconectados do que você estava falando;

  • Existe pressa em invalidar seus sentimentos ou mudar de assunto.

Esses comportamentos não apenas bloqueiam uma boa comunicação como também machucam. Sentir que suas palavras não têm espaço real na conversa é uma forma sutil de silenciamento emocional. E, com o tempo, isso afeta diretamente a confiança e a intimidade da relação.

Por que isso acontece?

A dificuldade em escutar verdadeiramente o outro pode ter diversas causas. Em muitos casos, é reflexo do ego. A necessidade de ter razão, de se defender ou de ser o centro da conversa impede a escuta empática. Em outros, trata-se de insegurança: a pessoa sente que precisa se afirmar o tempo todo, ou tem medo de ceder espaço por receio de ser invalidada.

Vivemos também numa cultura acelerada, em que há pouco espaço para o silêncio e para a escuta atenta. As pessoas querem respostas rápidas, soluções imediatas e, muitas vezes, confundem diálogo com monólogo alternado. Assim, perdemos a profundidade nas trocas e a possibilidade de criar relações mais autênticas.

Escutar é um ato de amor

A escuta é uma ferramenta poderosa de cuidado. Quando escutamos alguém com presença e atenção, oferecemos acolhimento. Demonstramos que o que essa pessoa sente importa, que ela tem um lugar seguro para se expressar. Isso fortalece vínculos, evita mal-entendidos e cria um ambiente propício ao crescimento mútuo.

Escutar também é uma forma de humildade. Significa estar disposto a sair do próprio mundo para entrar, ainda que por um momento, na realidade do outro. E não há conexão verdadeira sem essa abertura.

Como melhorar a escuta nos relacionamentos

Se você sente que não está sendo ouvido — ou que tem dificuldade em escutar —, aqui estão algumas práticas que podem ajudar:

  • Pratique o silêncio ativo: não interrompa. Espere a pessoa concluir antes de responder.

  • Demonstre interesse genuíno: olhe nos olhos, evite distrações como o celular e valide o que o outro está dizendo.

  • Faça perguntas: isso mostra que você está prestando atenção e deseja entender melhor.

  • Evite transformar a conversa em disputa: nem tudo precisa ser respondido com um contra-argumento.

  • Observe sua intenção: você está ouvindo para acolher ou para rebater?

Conclusão

A qualidade das nossas relações é diretamente proporcional à qualidade da nossa escuta. Se cada um estiver mais interessado em falar do que em ouvir, o diálogo vira monólogo e o vínculo se fragiliza com agenda31. Por isso, vale se perguntar com sinceridade: estou sendo escutado ou apenas tolerado? E, mais ainda: eu escuto o outro ou só espero a minha vez de falar?

Reaprendermos a ouvir — de verdade — é uma forma de resgatar a humanidade nas nossas relações. É permitir que o outro exista com sua dor, sua verdade e sua experiência, sem pressa de corrigir, julgar ou interromper. Porque ser ouvido de verdade, no fundo, é ser reconhecido. E todo mundo precisa disso.

 
 
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