EUNÁPOLIS MEMÓRIA

Por: Teoney Guerra
10/05/2022 - 06:28:39

Por: Teoney Araújo Guerra*

O povoamento na área onde hoje é o município de Eunápolis deu-se, segundo se presume, na década de 1930, com a criação de uma pequena povoação denominada de Córrego Grande, hoje o distrito de Gabiarra. Mais tarde, a partir de 1936, alguns posseiros vindos de Minas Gerais se estabeleceram nos vales do rio Buranhém e do córrego da Platina. Agostinho – que passou a ser conhecido como Agostinho da Platina – nas margens do córrego da Platina, e posteriormente, Manoel Quitiliano, Manoel Serrinha e Antônio Soares, no vale do rio Buranhém.

Relatos de moradores antigos dão conta de que, antes dos primeiros “garimpeiros” – como eram chamados os trabalhadores que construíram o “ramal”, estrada hoje parte da BR 367 – chegarem e instalarem o acampamento que deu origem ao hoje centro urbano de Eunápolis, nos idos de 1940, dois posseiros já haviam se fixado nessa área: Joaquim Quatro e Dioclésio. O primeiro teria sido Joaquim. A data da sua chegada é motivo de controvérsia. Uma das versões, sustentada por Moises Reis, um dos pioneiros de Eunápolis, dá conta de que isso ocorreu no dia 18 de setembro de 1944. Enquanto a outra, sustentada por Alcides Lacerda, morador antigo de Gabiarra, garante que isso ocorreu em 13 de maio de 1942.

Acampamento - Eunápolis teve sua origem em um acampamento dos trabalhadores que construíram o “ramal” – parte da rodovia hoje denominada de BR 367, que liga a BR 101 à cidade de Porto Seguro -, entre meados de 1945 e fins de 1946*. Em 5 de novembro de 1950, quando no acampamento foi celebrada uma missa campal e, ao final, fincado um cruzeiro, a data foi aclamada como da fundação do povoado, denominado de “Sessenta e Quatro”, numa referência à distância daquele local para Porto Seguro. Nessa missa, durante a homilia, o celebrante, o padre Emiliano Gomes Pereira, pároco de Porto Seguro, afirmara: “aqui há de surgir um centro progressista, onde cristãos haverão de elevar bem alto os nomes de Jesus e do Brasil”, frase que se tornou célebre para o povo eunapolitano.

Segundo os originais de um livro inacabado deixado por Wanderley Nascimento, um dos fundadores do povoado, “como o pagamento dos operários era feito na sede da EMENGE, as famílias de alguns tarefeiros e operários começavam a instalar pequenos botecos nas proximidades da empresa, margeando a BA-02 e a rodovia de Porto Seguro. Januário Neres, morador mais antigo, juntamente com o ex-proprietário das terras, Joaquim Quatro, instalara um casebre que servia de pensão e depósito a pessoas e mercadorias em trânsito para Porto Seguro (...) Foi assim que, de barraco em barraco, de família em família, o acampamento foi tomando forma de povoado”, relata Wanderley. Teve início assim a pequena povoação, já denominada de “Quilômetro 64”, que cresceu ocupando áreas dos municípios de Porto Seguro e Santa Cruz Cabrália, e originou o que hoje é a cidade de Eunápolis.

Depoimento de Antônio Lima Ribeiro, que chegou ao povoado no dia 11 de março de 1953, deu conta de que naquela data já havia no “Sessenta e Quatro” uma ocupação na área onde hoje são as ruas: Gravatá, Porto Seguro e Paulino Mendes Lima, onde haviam “poucas casas e meias-águas cobertas com taubilhas e completamente fora de alinhamento. Só na rua do Peixe – Paulino Mendes Lima – existiam duas casas cobertas com telhas”  

No dia 7 de março de 1954, uma equipe de engenheiros liderada pelo secretário de Viação e Obras Públicas do Estado da Bahia, Eunápio Peltier de Queiroz, veio à povoação para inaugurar o trecho da BA 02 – ainda de terra batida – que ligava o povoado de Mundo Novo ao Sessenta e Quatro. Recepcionado com grande festa: ruas enfeitadas, muita gente e discursos, o secretário ouviu uma reivindicação da população, que queria a aquisição de uma gleba de terras contíguas à área já ocupada, visando ampliar a povoação que não comportava o grande número de moradores, que já invadiam as terras do fazendeiro Ivan Moura. O Dr. Eunápio prometeu atender ao pedido, e no dia 12 de maio era lavrado o Recibo da compra de cinco alqueires das fazendas Boa Nova e Gravatá, de propriedade do fazendeiro Ivan de Almeida Moura. A área adquirida permitiu a ampliação da povoação.
 
Após a compra dos cinco alqueires das duas fazendas, ruas foram locadas e as áreas destinadas à construção das casas divididas em lotes, que foram distribuídos à população. De acordo com depoimento prestado por José de Araújo Santana na publicação “Eunápolis”, editada em 1988, esse trabalho de abertura de ruas e demarcação de lotes foi feito por ele, Araujão, José Domingos – topógrafo – e Antônio Lima Ribeiro.  

A partir de 1961, sertanejos de Ribeira do Pombal (BA) instalaram no povoado grandes estabelecimentos de comércio denominados de “armazéns”, que vendiam um grande número de produtos e gêneros alimentícios no varejo e no atacado. Esses “armazéns”, com suas vendas no “atacado” se tornaram a principal atividade comercial no povoado, que se tornava centro fornecedor de mercadorias de microrregião. A partir daí, o Comércio se diversificou com novas lojas de tecidos, produtos agropecuários, ferragens, louças, calçados, utilidades domésticas, móveis e eletrodomésticos. Esse foi o primeiro ciclo de desenvolvimento do Sessenta e Quatro.

Durante esse período, foram implantadas no povoado a energia elétrica e a iluminação pública - em 1966 -, gerada por um motor de caminhão a diesel; a primeira agência bancária - do Banco de Crédito da Bahia –; o primeiro posto telefônico; a instalação dos primeiros cinemas - em 1962 -, o que deu nova dinâmica à vida social local.  

O segundo ciclo desenvolvimentista se deu a partir de 1973, com a conclusão da parte da rodovia BR 101 que corta todo o sul e extremo sul baiano, e pôs fim ao isolamento econômico do extremo sul baiano, possibilitando a definitiva ocupação territorial e o povoamento da região, fazendo surgir novos núcleos habitacionais, que depois se tornaram cidades, e desenvolveu outras núcleos então existentes. A rodovia, que une o norte do país ao sul permitiu ainda o ciclo econômico mais importante por que a região já passou, o ciclo madeireiro, que teve por base a exploração da mata nativa. Estima-se que cerca de 200 serrarias se instalaram na região nesse período.

Esse ciclo de desenvolvimento que teve como principais protagonistas os capixabas, promoveu uma verdadeira transformação na economia local: propiciou o povoamento da região, com a criação de núcleos habitacionais*, gerou milhares de empregos diretos e indiretos, atraiu novos empreendimentos, empreendedores, investimentos e milhares de novos moradores. Abriu ainda as cidades litorâneas ao turismo, fortalecendo-as economicamente e desenvolvendo-as, especialmente Porto Seguro, tornando o denominado “sítio do descobrimento” um importante destino turístico nacional.    

Toda essa movimentação na economia local refletiu também no aumento populacional nos povoados e cidades da microrregião, no crescimento do comércio, tendo propiciado também a vinda de centenas de profissionais de diversas áreas, melhorando assim a qualidade da mão-de-obra e a oferta de serviços, especialmente nas áreas de saúde e educação.  Eunápolis foi autodenominado pelos seus moradores de “o maior povoado do mundo”.

Em 1988, findo esse período de prosperidade, em razão da proibição da derrubada da mata nativa, a economia local – e regional - entrou em uma profunda crise econômica. com o fechamento de quase todas as serrarias, o que resultou na diminuição drástica na circulação de dinheiro e no desemprego.
Emancipação – O município de Eunápolis foi emancipado em meio a essa crise econômica, através da Lei nº 4.770, sancionada pelo governador Waldir Pires, em 12 de maio de 1988. O município foi instalado – passou a existir, de fato - em 1º de janeiro do ano seguinte.

Uma nova fase de desenvolvimento ocorreu no início da década seguinte, com a implantado da Veracruz Florestal, atual Verecel Celulose, um empreendimento sediado em Eunápolis, mas cujas área de abrangência – de plantios de eucaliptais – atingia os oitos municípios da microrregião. Esse novo empreendimento influenciou fortemente a economia local, injetando alguns milhões de cruzados – moeda da época - em diversos setores econômicos

Segundo dados oficiais, entre 1999 e 2003 – que vai da implantação dos plantios de eucalipto até a construção da unidade industrial – o Produto Interno Bruto (PIB) Per Capta de Eunápolis subiu de R$ 2.558,66 para R$ 4.92,10 (91%).

Desde então, Eunápolis vem mantendo, de forma constante, um ritmo de desenvolvimento, uma expansão urbana e um aumento populacional, que hoje o colocam entre os maiores municípios do Estado da Bahia, e o 16º no número de empresas, com 10.352 estabelecimentos comerciais, industriais, de serviços e outros setores. Eunápolis é ainda, o 16º em população, com 119.290 habitantes, de acordo com estimativas da população de 2017, divulgadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE).
      
TOPÔNIMO – A denominação da povoação de “Eunápolis” teve por objetivo homenagear a Eunápio Peltier de Queiroz, o engenheiro agrimensor que, em 1954, quando era secretário de Viação de Obras do Governo do Estado da Bahia, aqui esteve no dia 7 de março para inaugurar uma etapa da estrada BA 02 – hoje BR 101 – e, atendendo pleito dos moradores da povoação, adquiriu os 5 alqueires de terras que permitiram à localidade se expandir e desenvolver economicamente.  

O topônimo “Eunápolis” deriva de “Eunápio”, prenome do homenageado, e “Polis”, palavra grega que significa cidade. Portanto, Cidade de Eunápio.  

*Teoney Araújo Guerra é pesquisador da história de Eunápolis.

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