Morre o empresário Zé Dantas

Por: Teoney Guerra
31/03/2021 - 20:30:03

Por: Com informações  do memorialista Teoney Guerra

Faleceu nesta quinta-feira, 31 de março, em Eunápolis, por falência múltipla de órgãos, José Dantas da Conceição. empresário aposentado, que desde o início da década de 1960 residia e aqui tinha negócios.  
José Dantas nasceu no município de Ribeira do Pombal (BA), no povoado de Curral Falso, no dia 23 de novembro de 1930. Filho de João de Souza Dantas e Dária Maria de Jesus.

Foi, sem dúvida, um importante comerciante de Eunápolis. Um empreendedor altruísta, cuja história empresarial está diretamente ligada ao desenvolvimento do – incipiente - comércio do então povoado, e a sua transformação no polo abastecedor que é hoje.

Para dar uma ideia do que Zé Dantas representou para o setor comercial local, basta citar que, até sua chegada aqui, Porto Seguro era o centro fornecedor da microrregião, enquanto Eunápolis era um “pequeno comércio”, com modestos estabelecimentos que atendiam apenas às necessidades, ao consumo da população local. E mais ou menos uma década depois, o comércio local já tomara de Porto Seguro, o lugar de fornecedor regional.  

Esse importante capítulo da nossa história que tem Dantas como protagonista, foi “escrito” com a participação efetiva dos pombalenses – filhos de Ribeira do Pombal (BA) – que para cá imigraram a partir do início da década de 1960, incentivados por Zé Dantas, o primeiro a trocar o sertão pelo então povoado.
Aqui se estabelecendo no comércio, com um armazém de “secos e molhados”, Zé Dantas incentivou a vinda de dezenas de outros conterrâneos, que também se estabeleceram na atividade comercial. Praticamente toda a primeira geração de pombalenses que para cá veio se estabeleceu no setor de atacado – o mesmo de Zé Dantas -, com grandes armazéns de “secos e molhados”, que vendiam cereais, sal, querosene, produtos alimentícios industrializados, utensílios e utilidades domésticas, entre outros itens.

Além de suprir as necessidades da população local, esses comerciantes que dispunham de frotas próprias de caminhões, faziam vendas e entregas nos povoados, distritos e cidades da região.

Foi assim que Eunápolis se tornou um centro abastecedor da região. Situação que se consolidou na década seguinte, após a BR 101, com a chegada dos comerciantes capixabas.

VIDA EMPRESARIAL – Como já informamos acima, Zé Dantas foi um empreendedor. Dono de um pequeno negócio na zona rural de Ribeira do Pombal, no extremo norte da Bahia, Dantas vendeu o que tinha para vir para o extremo-sul baiano. Segundo depoimento do próprio empresário, ele teria ouvido no programa de rádio A Voz do Brasil, que a BR 101 – em construção – teria um novo trecho que iria cortar todo o extremo sul baiano. “Uma oportunidade de desenvolvimento do extremo-sul, e de se ganhar dinheiro”, teria concluído. E pensando em realizar aqui o seu projeto de vida, veio.

Aqui chegou no dia 18 de abril de 1961, depois de uma viagem de vários dias: de ônibus, de carroceria de caminhão e de jipe, passando por várias cidades, entre elas: Salvador, Itabuna, Camacã, Itapebi e Itagimirim. Tempos de estrada de chão, em que uma viagem entre Itabuna e o povoado podia durar mais de um dia, e o rio Jequitinhonha era atravessado em canoas e em uma balsa – para os caminhões.  
Chegando ao então povoado de Eunápolis, foi a Porto Seguro para melhor conhecer a cidade onde pensara se estabelecer, mas voltou decidido a se instalar mesmo no povoado, “pois era aqui que a estrada ia passar, ia desenvolver” – disse. Comprou um terreno onde hoje é a rua 5 de Novembro, nele construiu, em cerca de 40 dias, um ponto comercial, e no dia 1º de junho fez o registro da empresa na Junta Comercial.

Retornou a Ribeira do Pombal, onde ficou por uns dias com a família – apesar de solteiro tinha um filho e uma filha -, e seguiu depois para Salvador, onde fez a compra do primeiro estoque, que foi despachado de barco para Porto Seguro. Veio de avião até Arraial d’Ajuda - onde estava localizado o aeroporto -, e de lá, em carro fretado, para Eunápolis. Uma semana depois foi a Porto Seguro onde retirou as mercadorias. Assim abriu a sua primeira casa comercial, o armazém de “secos e molhados” – antigo ramo de negócios onde se vendiam de quase tudo, desde grãos: arroz, feijão e farinha, sal, etc, até produtos industrializados, como querosene, extrato de tomate, óleo de soja e utilidades domésticas – cuja razão social levava o seu nome, José Dantas da Conceição Ltda.

Como também já informamos, passou a incentivar, através de cartas, a vinda de conterrâneos. O primeiro foi o cunhado, Lucas Reis, mais conhecido como Tio Lucas, com quem fez uma sociedade no armazém de “secos e molhados”. Depois veio Sinval Alexandre, com quem também fez sociedade em outro negócio.
Sociedades que lhe permitiram ampliar os seus negócios, de forma que, em 1967 já possuía também a primeira loja de móveis e eletrodomésticos de Eunápolis, a Eletro Radiolar, e o primeiro supermercado, o Supermercado Pague Menos, que cresceu e se tornou uma rede com filiais em diversos bairros de Eunápolis, Itabela, Itamaraju, Teixeira de Freitas e Itabuna, na Avenida do Cinquentenário. Dantas tinha também negócios em Goiás e no Mato Grosso. No Goiás, vendia madeira retirada aqui na região. E no Mato Grosso – Cuiabá -, comprava arroz que revendia “no grosso” aqui na Bahia. Nesse tempo, foi dono de uma frota com duas carretas e seis caminhões.  

Durante os 30 anos de atividade comercial – 1961 /1991 – Zé Dantas gerou mais de mil empregos diretos, todos registrados nos livros de registros de empregados das empresas que ainda hoje mantém no seu poder. Em 1991 começou a se retirar da atividade comercial. Desfez-se inicialmente de sociedades, depois, das filiais dos supermercados instalados nos bairros, e a seguir, das lojas de Teixeira Freitas, Itamaraju, Itabela, Itabuna, e finalmente encerrou as atividades: “pagando todos os impostos e todas as obrigações trabalhistas, tudo, tim-tim por tim-tim” fez questão de frisar. Passou a dedicar seu tempo à atividade agropecuária e à administração de imóveis que ainda possuía.

Comerciante de muitos negócios, Zé Dantas não teve, entretanto, uma participação ativa na vida social local. Porém, participou do movimento lojista, tendo ocupado a vice-presidência do então Clube dos Diretores Lojista (CDL), nas gestões: 1981 a 1982, 1983 a 1984 e 1985 a 1986. E nas campanhas promocionais de fim-de-ano do comércio – no início, quando a entidade não tinha recursos para comprar os brindes e prêmios das campanhas, que eram doados pelas grandes lojas -, sempre foi um dos maiores colaboradores.

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