Refugado: um povoado perdido nos confins, mas na era digital

Por: Teoney Guerra
13/11/2019 - 11:03:13

O nome oficial é São José do Monte Negro, mais conhecido, porém, como Refugado, um lugarejo minúsculo, com apenas 32 casas e 51 moradores, perdido nos confins da divisa de Jucuruçu com Itanhém. Povoação que data no início do século passado, segundo período de povoamento do extremo sul baiano, durante o ciclo do jacarandá; talvez por isso, sem praça nem igreja, como era costume nas pequenas povoações dos séculos XVI e XVII - primeira fase de povoamento da região - por influência da “Santa Madre Igreja”. 

Povoado de acesso não tão fácil, por uma estradinha tortuosa com cerca de 50 km - a partir da cidade -, carente de conservação, que, por boa parte da sua extensão, beira precipícios íngremes, construída que foi na borda de penhascos. Por todo o percurso, imensas áreas ocupadas por pasto dominam a vista em ambos os lados da estrada vicinal, por ser a pecuária a principal atividade econômica local.

Seu perímetro não vai além de uma ruazinha de chão batido, ladeada por casas antigas, algumas de taipa cuja madeira e o barro construtivo ainda estão à mostra, outras de tijolos, com reboco e pintura, várias delas contendo cercas de madeiras ou de arame farpado como delimitação da rua. Os fundos, sem muros, dão para o mato ralo e seco, levemente colorido pelo verde de alguns arbustos e uns poucos exemplares da flora remanescente da mata atlântica, da qual quase nada restou.

Árvores de pequeno e médio porte sombreiam a frente de algumas dessas residências, onde há sempre um banco de madeira, móvel tão útil para as conversas, os fuxicos e a observação da vida alheia.

Alguns postes dispostos enfileirados de um lado da rua sustentam a rede elétrica, que fornece a energia às residências e ilumina, de forma precária a via pública e o campinho de futebol situado em uma das extremidades da povoação. Um açougue e uma mercearia instalados em pequenos cômodos na parte da frente de residências, sem placa, sem identificação, garantem o fornecimento dos gêneros de primeira necessidade e alguns itens de utilidade doméstica que podem ser encontrados ali.

Lugarejo de população já envelhecida, sem crianças a correr pela rua; ao contrário, idosos a andar a passos lentos, como lento parece transcorre os dias ali.

Como parte da paisagem, galinhas e frangos ciscam aqui e acolá, e cães dormem à sobra, nos oitões de casas ou debaixo de árvores.

A um canto, numa área cercada e já tomada pelo mato, um aparelho telefônico tipo orelhão e um conjunto de equipamentos que o faziam funcionar, trambolhos empoeirados e semidestruídos pela ferrugem, que dão a impressão de que o que havia de comunicação daquele povo com o restante do mundo teve um fim.

Puro engano. Pois naquele local ermo, em casebres toscos com telhados baixos e no fundo puxadinhos improvisados que abrigam fogões a lenha, entre telhas velhas enegrecidas pela ação do tempo, as “bacias” [monopontos] reluzentes da moderna telecomunicação, voltadas para o céu, sinalizam que também ali a tecnologia analógica não tem mais vez. Como no Brasil desenvolvido, também ali, as famílias vivem tempos modernos, de audiência para aos grandes estúdios de TV; vivem a era digital; Refugado faz parte da “Aldeia Global."

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