Por: Salvador Nogueira
Um asteroide com cerca de 30 metros de diâmetro — capaz de produzir danos, portanto — deve passar de raspão pela Terra nos primeiros dias de março, mas não deve colidir, segundo a Nasa.
Em compensação, a essa altura, o nível de incerteza sobre quando ele vai passar de raspão — e quão perto será esse “quase” — ainda é bem grande. De início, imaginava-se que o objeto, que atende pelo nome 2013 TX68, fosse passar no dia 5, a cerca de 24 mil quilômetros da Terra — menos que duas vezes o diâmetro do nosso planeta e numa região mais interna do que a que abriga a maioria dos nossos satélites de telecomunicação. No futebolês, isso poderia ser qualificado como um “Uhhhh!”.
Outras observações de arquivo levantadas do asteroide, contudo, já sugerem que ele provavelmente vai passar bem mais longe, fazendo sua aproximação máxima só no dia 8, e a cerca de 5 milhões de quilômetros — várias vezes a distância Terra-Lua.
A despeito da incerteza, os cientistas afirmam que não há hipótese de colisão. “Não há preocupação nenhuma sobre esse asteroide — a não ser que você esteja interessado em vê-lo com um telescópio”, disse Paul Chodas, do JPL (Laboratório de Propulsão a Jato) da Nasa.
(Não se anime nem com isso, contudo: esse asteroide será muito difícil de observar, com toda essa incerteza e com a possibilidade maior de passar muito longe.)
OUTROS EVENTOS ASTRONÔMICOS DO MÊS
Aliás, março vai ser o grande mês dos eventos astronômicos que você NÃO vai ver. A começar por um eclipse total do Sol que rola na virada do dia 8 para o dia 9, mas só para quem estiver no Sudeste Asiático. E, no dia 14, a Lua vai ocultar Aldebarã, a estrela mais brilhante da constelação de Touro, mas você também não vai ver aqui do Brasil. No máximo, à noite, encontrará a Lua bem pertinho de Aldebarã, o que facilitará a identificação da bonita gigante vermelha.
A 65 anos-luz daqui, Aldebarã já foi no passado uma estrela muito parecida com o Sol, mas é bem mais velha que ele. A essa altura, ela já saiu da sequência principal e está na fase gigante, o que equivale a dizer que esgotou o hidrogênio em seu núcleo. Enquanto consumia elementos mais pesados no processo de fusão nuclear, ela inchou até atingir um diâmetro 44 vezes maior que o solar. É basicamente o que vai acontecer ao nosso Sol em mais uns 5 bilhões de anos.
Em um artigo publicado no ano passado, um grupo de astrônomos encabeçado por Artie Hatzes, da Universidade de Iena, na Alemanha, encontrou evidências de um planeta gigante (entre 6 e 7 vezes a massa de Júpiter) com órbita similar à de Marte (45% maior que a que a Terra descreve em torno do Sol) em torno de Aldebarã. A descoberta foi feita com base em análises das variações de velocidade radial da estrela colhidas durante três décadas. Será que Aldebarã, no passado, teve um sistema planetário parecido com o nosso? Pode muito bem ter sido esse o caso.
E o destaque astronômico do mês que os amantes da observação celeste no Brasil poderão de fato ver é o planeta Júpiter, que atinge sua oposição ao Sol no dia 8 e ganha seu brilho máximo, tornando-se ainda mais esplendoroso do que o normal. Em sua aproximação máxima da Terra, no mesmo dia, ele estará a 663,5 milhões de quilômetros de nós (pouco mais de quatro vezes a distância Terra-Sol, cerca de 150 milhões de km).
Na astronáutica, o mês é marcado pelo retorno à Terra do astronauta Scott Kelly e do cosmonauta Mikhail Kornienko, marcado para a primeira hora de quarta-feira (2), depois de uma estadia de quase um ano (340 dias) a bordo da Estação Espacial Internacional. Mais adiante, no dia 14, abre-se a janela de lançamento para o ExoMars Trace Gas Orbiter, satélite da ESA destinado a investigar o mistério do metano em Marte. Será que ele é sinal de vida no planeta vermelho?
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