Parque Nacional do Alto Cariri completa 10 anos

Por: Teoney Guerra
10/06/2020 - 15:27:30

Neste dia 11 de junho, o Parque Nacional do Alto Cariri, unidade de preservação ambiental incrustado no município de Guaratinga, aqui no extremo-sul baiano, completa 10 anos.

Criado em 2010, por decreto de presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o parque foi instituído visando preservar o complexo de serras do Alto Cariri, o último fragmento de grande porte de mata atlântica do leste do estado da Bahia e nordeste de Minas Gerais. Preservando essa área, se preservam também os mananciais e cursos d’água, a fauna, em especial, as populações de mamíferos, répteis e aves ali existentes, especialmente o macaco muriqui-do-norte (Brachyteles hypoxanthus).

Está também previsto no decreto de criação do parque, a atividade do turismo ecológico, e o desenvolvimento de pesquisas científicas no seu interior.

O parque tem uma área de 19.264 hectares, e há, no seu interior, cerca de 700 a 800 nascentes que formam mais de uma dezena de córregos e outros cursos d’água que compõem a bacia do rio Buranhém. A unidade de conservação é considerada a “caixa d’água” da Costa do Descobrimento.

Com cerca de 50% da mata e micro ecossistemas preservados, o local concentra uma rica biodiversidade, onde há “várias espécies de plantas e aves raras, ameaçadas e até endêmicas”, como garante a bióloga Adriana Prestes, servidora do ICMBio, que é gestora da unidade federal.

Levantamentos realizados comprovam a existência no local, de várias espécies de macacos, sendo o muriqui-do-norte o mais importante, por ser o maior primata da América do Sul, uma espécie endêmica da mata atlântica e criticamente ameaçada de extinção. Há também as onças: parda e pitada, tatus, pacas e até lontras. Entre as aves, o gavião pega-macaco, beija-flor balança-rabo-canela, a araponga, o urubu-rei. “É uma região de mega biodiversidade de aves”, afirma a bióloga. Répteis, como os lagartos, e cobras, como as jararacas, têm no parque seu habitat. “Existe uma diversidade muito grande de anfíbios, inclusive com suspeita de espécies novas, o que, para o meio científico é ótimo”, destaca a gestora do parque.

No que tange ao uso do parque em atividades de recreação e turismo ecológico - que já vem sendo feito -, que são permitidas, a unidade de conservação oferece muitas opções. Uma delas é o turismo de observação, que tem inúmeros atrativos, como vales lindíssimos, montanhas, fendas, aves, e a exuberância da mata nativa, com exemplares seculares do jacarandá-da-bahia, vinhático e jequitibá, entre outras espécies nativas da mata atlântica. Há ainda as trilhas, e muitos córregos – alguns bastante volumosos - de águas límpidas, com várias cachoeiras e quedas d’água menores.

Não faltam também, atrativos para a prática de esportes radicais, como o mountain bike, o voo livre e o rapel, entre outras modalidades.  

Apesar da sua importância especialmente nos aspectos ambiental e biológico, o parque ainda não foi totalmente implementado, e para que isso ocorra, ainda será necessário se vencer grandes desafios, como diz Adriana, que salienta ser um deles, “a falta de recursos financeiros”. Só para dar uma ideia do quanto ainda precisa ser feito, vejamos o aspecto fundiário. Pela Lei 9.985/2000, que rege o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), não pode haver propriedades particulares no interior dos parques nacionais. Entretanto, dentro do Parque do Alto Cariri há mais de 200 propriedades rurais. Adriana ressalta, entretanto, que essa não é uma realidade apenas local, mas de diversos parques nacionais – até já consolidados.

 

Outro problema grave é a existência de áreas degradadas. De acordo com a servidora da ICMBio, são processos de degradação havidos em tempo anterior ao parque, no interior das propriedades rurais, que, entretanto, perduram sem uma recuperação. Alguns desmatamentos, “ações isoladas e pontuais” como explica Adriana, ocorrem, mas quando descobertos, geram autuações. A gestora garante, porém, que vem sendo feito um trabalho de conscientização, com o objetivo de informar aos donos dessas fazendas para recuperarem essas áreas e, sobretudo, a não cometerem crimes ambientais.

A gestora esclarece, porém, que nesses dez anos, algumas vitórias já foram obtidas. É o caso da constituição da primeira Esquadra de Brigada Temporária para prevenção e combate a incêndios. Além disso, “já se vislumbra a criação do conselho consultivo, que permitirá uma participação maior da comunidade, e o plano de manejo, um importante instrumento visando a gestão da unidade, que está em vias de se iniciar”, exemplifica a gestora. Ainda de acordo com ela, a criação da brigada abriu 10 vagas de trabalho na região.

Por não ter sido ainda totalmente implementado, e ter fazendas como áreas limítrofes, o parque ainda não teve o perímetro cercado – e não tem ainda uma portaria -, mas seus limites e perímetro já são demarcados – portanto, reconhecidos legalmente. Chega-se à área por três estradas vicinais. Uma, pela cidade de Eunápolis, através da estrada da Colônia – caminho mais próximo -, que dá acesso ao norte do parque. A segunda, via BR 101, passando por Itabela e Guaratinga, e daí, pela estrada que liga a cidade aos povoados de São João do Sul e Monte Alegre. E o terceiro caminho, pelo lado de Minas Gerais, através do município de Santo Antônio do Jacinto. Existem outros acessos, precários, cujo uso não é aconselhado.

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