Por que o “ficante fixo” virou desculpa pra não se comprometer?

Por: izabelly Redação
25/06/2025 - 09:51:35

Nos últimos anos, a forma como nos relacionamos passou por transformações profundas. Termos como “ficante fixo”, “quase namoro”, “amizade colorida” e “relacionamento sem rótulo” ganharam espaço no vocabulário afetivo da geração atual. Em meio a essa nova linguagem emocional, o “ficante fixo” se destaca como uma figura emblemática: é alguém com quem se mantém intimidade, frequência e até certa exclusividade — mas sem os “pesos” de um namoro tradicional. O problema? Muitas vezes, esse formato vira uma desculpa conveniente para evitar responsabilidade emocional e compromisso real.

O que é o “ficante fixo”?

O “ficante fixo” está naquela zona ambígua entre o casual e o sério. Ele aparece nos finais de semana, talvez conheça alguns amigos, compartilha segredos, afeto e até divide a cama com frequência. Pode haver ciúme, planos juntos e uma rotina parecida com a de um casal. Mas, se alguém perguntar: “vocês estão namorando?”, a resposta vem rápida: “Não, somos só ficantes”. Essa resposta costuma vir com um sorriso tímido, um ar de desconforto ou uma justificativa longa — afinal, parece haver sentimentos, mas nenhum rótulo.

A cultura do quase

Vivemos na era do “quase”: quase namoro, quase amor, quase compromisso. Essa cultura tem raízes profundas em um mundo onde o imediatismo reina e onde relações líquidas, como diria o sociólogo Zygmunt Bauman, são mais fáceis de gerir do que laços profundos e duradouros. O medo de se entregar, de se decepcionar ou de perder a liberdade alimenta esse modelo relacional baseado na conveniência emocional. Ser “ficante fixo” permite desfrutar da intimidade sem lidar com as obrigações que um compromisso carrega.

Medo da responsabilidade afetiva

Assumir um relacionamento significa também assumir que a outra pessoa terá expectativas. Significa lidar com frustrações, com cobranças (ainda que saudáveis) e com a construção de algo a dois. Para quem tem medo de se machucar ou que cresceu em um ambiente onde relacionamentos foram sinônimo de dor ou controle, o “ficante fixo” parece o melhor dos mundos. Mas essa escolha, muitas vezes, não é sobre liberdade — é sobre fuga.

É aí que o “ficante fixo” deixa de ser uma fase e se torna um padrão. Uma forma de se manter próximo o suficiente para ter carinho e intimidade, mas distante o bastante para não se comprometer com o crescimento da relação.

A armadilha da zona cinzenta

Quando duas pessoas entram em um arranjo de “ficada fixa”, mas com visões diferentes sobre o que aquilo significa, surge o desequilíbrio. Alguém se apaixona mais, espera mais, sofre mais. Enquanto um lado pode estar confortável com a falta de compromisso, o outro vive em eterna expectativa, esperando o dia em que “isso tudo vai virar namoro”. E talvez esse dia nunca chegue — não por falta de amor, mas por falta de disposição em lidar com o que o amor exige: entrega, vulnerabilidade, paciência.

A zona cinzenta se torna, então, um lugar de frustração silenciosa. Um espaço onde a pessoa aceita migalhas emocionais em troca de não perder a presença do outro. E o que era para ser leve, começa a pesar.

Liberdade ou comodismo?

Muitas vezes, o discurso da liberdade — “não quero rótulos”, “não quero me prender a ninguém” — esconde, na verdade, uma grande dificuldade em se responsabilizar emocionalmente pelo outro. O “ficante fixo” permite manter uma conexão que traz afeto, sexo e companhia, mas sem abrir espaço para crescimento conjunto, planos futuros ou profundidade emocional.

A liberdade real, no entanto, não se trata de fugir de vínculos. Trata-se de escolher conscientemente com quem queremos estar e de que forma queremos construir essa relação. Fugir do compromisso não é ser livre — é ter medo.

O que você realmente quer?

Aceitar ser “ficante fixo” pode ser válido, desde que isso esteja alinhado com os seus desejos e valores. Mas quando o que se quer é um relacionamento sério e o outro lado evita o compromisso sob a desculpa de manter algo “sem pressão”, é preciso repensar: vale a pena insistir? Até que ponto você está se adaptando a um formato que só beneficia o outro?

A maturidade emocional exige clareza, honestidade e coragem para dizer: “isso não me basta”. Se você deseja algo mais profundo, não aceite menos do que isso só para não perder alguém.        fikante

Conclusão

O “ficante fixo” virou a forma moderna de manter alguém por perto sem o ônus de um namoro. Mas por trás da aparente liberdade, muitas vezes, esconde-se a covardia emocional. Em um mundo onde todos têm medo de se machucar, criamos vínculos cada vez mais rasos, onde ninguém se entrega de verdade. A pergunta que fica é: estamos mesmo livres ou só presos a relações que nos impedem de viver o amor de forma plena?

 

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