Advogada, psicopedagoga e 33 anos dedicados à educação. Esta mineira de Nanuque-MG morou boa parte de sua vida no Espírito Santo e somente em 1999 adotou Eunápolis como lar e cidade para implantar o que viria a ser uma das instituições de ensino mais respeitadas do Extremo Sul. Casada com um filho da terra, o empresário Ponciano Fadini e mãe de duas garotas Ademilde Maria falou ao Nossa Cara sobre o processo de implantação e desenvolvimento das faculdades Integradas Unisul Bahia.
Nossa Cara - Como foi a chegada da instituição à cidade?
Ademilde Maria A Unisul não chegou, ela nasceu aqui. A Unisul Bahia é genuinamente eunapolitana. Ela nasceu em Eunápolis devido à necessidade que nós sentimos de Eunápolis está... e não só Eunápolis, mas toda a região há mais de 500 anos está desprovida de ensino superior. E por que pensamos isso, implantar uma instituição de ensino superior? Primeiro porque a minha família já mora na cidade há mais de 30 anos. Depois meus sobrinhos deixavam suas famílias com uma idade na qual eles mais necessitavam estar com os pais, sua adolescência e iam para Vitória-ES e Salvador-BA para dar continuidade aos estudos. Então nós fomos vendo o sofrimento dessas famílias tendo que deixar seus filhos de 14, 15 anos fora de casa para estudar. Eu tinha 26 anos de educação superior quando me aposentei e vim para a cidade com meu marido e queria fazer alguma coisa. Pensamos no que seria mais viável e foi assim que surgiu a Unisul Bahia.
Nossa Cara - Como foi o processo de implantação?
Ademilde Maria – Decidimos que Eunápolis precisava de um curso superior, na época existia apenas uma extensão da Universidade Estadual da Bahia (Uneb) e ela tinha apenas 40 vagas para o curso de Letras. Levamos um período de cinco anos entre pesquisas e estudos para que a Unisul Bahia nascesse aqui em Eunápolis. Tivemos um apoio muito grande da Veracel e do Ibge e a instituição nasceu de recursos próprios de duas famílias: famílias Silva e Fadini. A herança que nossos pais deixaram depois de trabalhar mais de 80 anos nós investimos em educação. É uma questão de realização, de ideal, não foi vaidade, nem um empreendimento para ganhar muito dinheiro, sabíamos disso. Se estivéssemos buscando lucro apenas, teríamos investido em outra coisa que desse resultado muito mais rápido do que educação.
Nossa Cara – Quando a idéia começou a ser colocada em prática?
Ademilde Maria – A idéia de implantar em Eunápolis um curso superior foi discutida entre os anos 1994/96. Em 2000 já estava funcionando o primeiro curso da Unisul Bahia, o de Administração de Empresas. Nós começamos dando aulas na Cooperativa Educacional de Eunápolis (Coeduc). Através de uma parceria nós reformamos a Coeduc, dando nova cara à escola, que foi uma grande parceira nessa fase. Nós temos uma gratidão grande pela Coeduc, ficamos um ano lá e já nos primeiros seis meses percebemos que a escola não comportaria. Na época também já funcionava o curso de pedagogia e mais três estavam previstos.
Nossa Cara – Como se deu a implantação da sede da Unisul na BR-367?
Ademilde Maria – Compramos o terreno (onde funciona a Unisul) através da oportunidade que surgiu de adquirir o terreno. Ainda durante a fase Coeduc nós começamos a procurar um lugar para construir a sede própria. Queríamos em Eunápolis mesmo, mas não encontramos. Quando falávamos o que pretendíamos fazer o preço sempre aumentava. Foi aí que o senhor Carlos Aurick, com muita sensibilidade à causa, resolveu nos vender a frente de sua fazenda (a propriedade ficava às margens da BR-367). Então compramos a parte nobre da fazenda e montamos a sede da Unisul. Em 2001 já estávamos funcionando na nova sede que oferece atualmente cinco cursos de graduação: Turismo, Pedagogia, Direito, Administração de Empresas e Ciências Contábeis.
Unisul em números
A Unisul Bahia possui uma média de 1.300 alunos matriculados. A instituição realiza dois processos seletivos durante o ano e em apenas seis anos de existência já apresenta parcerias com instituições renomadas a exemplo da Fundação Visconde Cairu de Salvador e a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Possui ainda 220 bolsistas proveniente de vários programas de financiamento estudantil, 120 funcionários e 87 professores. Além da construção de um anfiteatro a Unisul traz como novidade os processos de implantação de novos cursos: Fisioterapia, Educação Física, Enfermagem e Sistema de Informação.
Nossa Cara – Como aconteceu o recrutamento de professores para a instituição?
Ademilde Maria – Foi muito difícil e complicado. O ponto crucial de nosso empreendimento foi esse da contratação de pessoal capacitado. Mas para nossa surpresa Porto Seguro, Arraial D’Ajuda e Trancoso possuem muitos profissionais escondidos. Aquele povo que veio do Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador e Belo Horizonte que só está aqui buscando um contato maior com a natureza, esse povo está aí, mas nós só descobrimos isso depois. A principio trouxemos professores do Espírito Santo e Minas Gerais, eles se deslocavam de seus estados até Eunápolis para dar aula. Hoje já não temos mais tantas dificuldades, já qualificamos muita gente: pedagogos, administradores e contadores. Qualificamos e agora estamos utilizando uma mão-de-obra que nós mesmos formamos. Eu acho que esse é o ponto mais relevante da instituição: estar cumprindo com seu papel, transformar a região através da educação.
Nossa Cara – Como é feito o processo de seleção dos professores?
Ademilde Maria – A primeira exigência é que o candidato tem que ter no mínimo uma especialização. Nós cobramos Lato Sensu, Stricto Sensu ou Doutorado. A maioria do nosso professorado é especialista, outra parte já é mestre e temos uma doutora e um doutorando. O profissional tem que apresentar um currículo, daí marca-se com ele uma entrevista feita pela coordenação, direção e diretoria. Depois dessa primeira entrevista ele realiza uma aula-teste, forma-se uma banca com profissionais da instituição e esse professor é avaliado.
Nossa Cara – Eunápolis está numa fase de entusiasmo em relação ao desenvolvimento. Como a Unisul se insere nesse contexto?
Ademilde Maria – Eunápolis tem dois grandes empreendimentos: a Veracel Celulose e o segundo maior é a Unisul, porque ela é diferente, é cultural, veio modificar, transformar a cabeça das pessoas. É uma empresa que veio contribuir, somar. Sem pretensão, a Unisul é um dos maiores investimentos da região. E como ela veio contribuir com Eunápolis? Se você perguntar a todas as pessoas esclarecidas, elas confirmam, Eunápolis possui duas histórias: uma antes da Unisul e outra após a Unisul. Quantas pessoas nós preparamos para o mercado? São pedagogos, administradores, contadores... é outra visão que essas pessoas carregam, outra concepção de cidadania, de filhos da terra, são outros olhos, possíveis apenas pela educação. Então eu acho que essa é a maior contribuição da Unisul.
Fotos: Urbino Brito e Luciana Oliveira
Fonte/Autor: Luciana Oliveira